O uma mãe é capaz
de fazer para proteger um filho?
Tenho certeza
de que você já leu e talvez já ouviu grandes histórias sobre esse tema, a
própria bíblia registra o caso da mãe de Moisés que usou de muita sabedoria
para proteger o seu filho, mesmo correndo o risco de ser descoberta pelos
egípcios.
Quero contar a
vocês uma pequena história, não de uma mãe qualquer e sim de minha própria mãe.
Quando eu era
ainda criança com mais ou menos sete anos de idade, morávamos na área rural de
uma cidade do interior do estado do Paraná, chamada Campina da Lagoa. Nossa
residência ficava na beira de uma estrada de terra sem muito movimento. A terra
não era nossa, na verdade, nessa época a nossa condição financeira era bem
precária.
Foi nesse
período que atingi a idade de começar os estudos, a escola mais próxima, ficava
em uma comunidade pequena, rodeada de algumas casas e com uma igreja presbiteriana,
era essa igreja que frequentávamos aos finais de semana, apesar de não ser a
denominação de origem da família, meu pai fazia questão de frequentar porque
não queria que os filhos e ele mesmo ficasse sem congregar.
Entretanto
havia um grande problema, para ir até a escola, era preciso passar por dentro
de um pasto onde havia uma grande criação de gado e todos sabem que sempre
existe vacas que são bravas, principalmente quando acabam de ter as suas crias.
Passando por dentro do pasto a distância até a escola seria de 1,5 km, a outra
opção seria fazer um trajeto mais longo, dando uma grande volta e aumentado a distância
para 3,5Km, não era possível para uma criança passar no meio do gado
desacompanhado, e o meu pai trabalhava o dia inteiro na roça, então eu fazia
sempre o caminho longo.
Você deve
estar se perguntando, e a mãe dessa criança?
A questão é
que minha querida mãe, não sei por qual motivo, talvez um trauma de infância,
morria de medo de qualquer tipo de gado, por consequência essa opção estava
descartada, restava para eu fazer a grande caminhada todos os dias.
Certa vez ela
tinha encomendado com uma senhora que morava perto da escola, algumas blusas
feitas de tricô, quando chegou a data em que as roupas estavam prontas, meu pai
ordenou que ao voltar da escola eu passasse na casa da costureira e pegasse as
blusas.
Porém como é
fato notório, criança facilmente se distrai e esquece as ordens recebidas e foi
exatamente o que aconteceu. Terminada a aula me envolvi em algumas brincadeiras
e fui para casa sem fazer o que era para ser feito, perto de casa, ao longe
avistei o meu pai e lembrei das encomendas.
O velho sempre
foi muito severo e com certeza não deixaria passar em branco a minha
insubordinação, apesar dos protestos de minha mãe, alegando a minha pouca idade
e o fato de já estar próximo do pôr do sol, recebi a ordem de voltar na
comunidade e cumprir com a minha obrigação e ele não a deixou me acompanhar.
Logicamente
que fiz o caminho mais longo, tentei fazer o trajeto o mais rápido possível até
correndo em alguns momentos, mas não teve jeito, quando cheguei no local, já estava
quase escurecendo.
Quero abrir um espaço aqui para
explicar que havia um rapaz na comunidade que tinha provavelmente uns quinze
anos a qual chamávamos de Polaco, esse adolescente tinha Epilepsia e as vezes
sofria terríveis convulsões, na minha ingenuidade de criança, eu não entendia e
tinha muito medo dele, mas na verdade ele era uma pessoa muito doce e
prestativa.
Todavia, se eu
tinha medo do Polaco, o medo das vacas era muito maior, reuni toda coragem que
me restava e pedi a ele que me atravessasse por meio do pasto, pedido que foi
prontamente atendido.
Então
aconteceu algo que até hoje ao lembrar as lagrimas enche os meus olhos, quando
estávamos mais ou menos no meio do caminho, escutei um barulho no meio da
escuridão, era minha mãe e chamava por mim. Ela estava chorando, me abraçou
apertado, um abraço que jamais vou esquecer, agradeceu ao Polaco pela gentileza
e com um pedaço de madeira nas mãos, caminhou comigo até em casa, passando
corajosamente pelo meio onde estavam os animais, por incrível que pareça,
apesar de haver algumas vacas que tinham acabado de ter suas crias, nenhuma se
mexeu enquanto passávamos, sinceramente não sei o que aconteceria se alguma
delas nos atacasse. As lembranças que tenho de minha mãe, são muitas e com
certeza daria um livro, essa, porém me marcou profundamente, naquele dia
entendi que ela sempre estaria do meu lado, nos bons momentos e principalmente
nos maus momentos.
Finalizando a
história, preciso dizer que ao chegar em casa, vi pela primeira vez ela encarar
o meu pai e dizer a ele o quanto sem sentido tinha sido a sua decisão.