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quinta-feira, 7 de abril de 2022

EMÍLIA, A GALINHA VASCAINA.

 


Dona Maria tinha uma mania esquisita, ela colocava nomes em todos os animais. Você deve estar perguntando; “Como assim, esquisita? Todos nós colocamos nomes nos bichos” é verdade, os cachorros têm seus nomes, os gatos, os cavalos, todos nós colocamos nomes nos bichos. Maria era diferente, ela nomeava tudo quanto é animal, gato, cachorro, cavalo, galinha, porco, ninguém escapava.

Entretanto isso causava um grande problema, porque na roça alguns animais são criados para servir de alimento, e quando você mata um animal que tem até nome, fica parecendo quase um assassinato.

Vejam só, Maria criou uma galinha e desde pequena a penosa era chamada de Emília, por que esse nome? Eu não sei, era Emília pra lá, Emília pra cá, onde dona Maria estava, lá estava a galinha andando atrás. O fato é que devido a esse apego, diversas vezes ela escapou de ir para a panela.

Seu João, o marido da dona Maria, era um homem rude, criado no campo, e ao contrário da esposa, não tinha aproximação nenhuma com os animais, para ele, na roça, um animal pode ter apenas duas utilidades; servir para o trabalho, ou servir como alimento. Porém, seu João tinha uma grande paixão na vida, o futebol, ele não gostava apenas de praticar, era um fanático torcedor do Botafogo.

Naquele tempo, década de sessenta, a televisão estava ainda no começo, além do mais, na roça não tinha energia elétrica, por isso era preciso se contentar com as transmissões feitas através do rádio. Nos dias de jogos, João se sentava na grande varanda de sua casa, pedia para a esposa fazer um grande bule de café e ouvia atentamente a narração dos jogos.

E a galinha, onde entra nessa história?

Você pode até não acreditar, mas de tanto ouvir os jogos, ela começou a gostar, e sempre ficava ali do lado do homem, ouvindo atentamente o locutor. No começo ele até gostou da companhia, afinal é melhor torcer acompanhado.

João era botafoguense, mas Emília, para seu desgosto, se afeiçoou tremendamente ao Vasco da Gama, bastava ouvir o nome do time, ela começava a cacarejar e pular de felicidade.

A irritação do botafoguense crescia a cada dia, dona Maria, porém sempre salvava a galinha das mãos do marido.

Certo dia, lá pelos idos de 1968, as duas equipes chegaram à final do campeonato carioca, a vitória do Botafogo foi massacrante, quatro a zero, nesse dia, a galinha foi além, a cada gol do adversário ela partia para o ataque, dando bicadas no patrão. Empolgado com a vitória de seu time do coração, irritado com a penosa e aproveitando que a esposa não estava em casa devido a uma viagem, ele fez algo terrível.

Comemorou a vitória do alvinegro comendo um saboroso e suculento prato de galinha com batata. Quando dona Maria voltou da viagem, a tragédia já estava consumada.

Eu não acredito em maldição, praga ou nada parecido, mas a verdade é que após esse episodio o Botafogo ficou vinte e um anos sem ganhar nenhum título.

Coincidência ou não a galinha estava vingada.

Obs ; Minhas sinceras desculpas a todas as Emílias que por caso leiam este texto, porque ele é apenas uma obra de ficção.

 


sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Meu braço torto. (Crônica)


Meu braço esquerdo é torto, nada que me atrapalhe em alguma coisa, aliás, nunca me atrapalhou, mas a verdade é que nem sempre foi assim. Até a idade de doze anos, meu braço era normal e perfeito. Entretanto, falar sobre o braço me serve apenas de pretexto para chamar a atenção sobre algo muito mais sério e complicado, um problema sobre o qual a raça humana está envolvida desde o jardim do Èden, a desobediência.
Adão e Eva desobedeceram a Deus, e todos nós temos uma tendência terrível, apesar de muitas vezes negarmos, de seguir o mesmo caminho, sempre achamos que desobedecer é melhor, o resultado catastrófico dessa atitude esta registrado em todos os livros de historia e principalmente na Bíblia.
Mas vamos retornar a minha historia.
Morávamos na cidade de São Paulo, em uma casa que ficava nos fundos de uma igreja. Não sei se todos sabem, mas os paulistanos gostam de fazer casas cobertas com lajes de concreto e a nossa não era diferente, como é do conhecimento de todos também, antigamente não tínhamos brinquedos eletrônicos e celulares, então as nossas brincadeiras eram sempre ao ar livre, esconde-esconde, pega-pega, bolinhas de gude, pião, futebol e pipa, ou como é conhecido em outras regiões do Brasil, papagaio. Eu não apenas gostava de soltar pipa, era fanático, por incrível que pareça, às vezes fazia isto até mesmo a noite, mas havia algo ainda pior, adorava soltar pipa de cima da casa, algo explicitamente proibido pela minha saudosa mãe.
Voltamos à desobediência.
Apesar da proibição e dos avisos sobre o perigo de ficar brincando em cima da casa, sempre que minha mãe saía para trabalhar, lá estava eu praticando o velho e nefasto pecado da desobediência, durante um bom tempo não aconteceu absolutamente nada. Certo dia, porém quando fui subir pelo muro, não percebi que havia um bloco solto, e o tombo foi inevitável. Cai estatelado no chão e o bloco despencou por cima do meu braço. A correria foi total, como meus pais estavam trabalhando, fui levado por um vizinho até o hospital, pronto socorro lotado, gente por todos os lados, um ortopedista para atender uma multidão.
Não culpo o médico, dentro das condições em que trabalhava ele fez o que podia ser feito, mas até hoje quando olho o meu braço torto lembro-me da minha desobediência.
Minha mãe me perdoou, mas fiquei marcado pra toda vida.




Eu vejo

Uma estrela brilhando no espaço, Um peixe vagando no mar, Eu, a rosa e o retrato,  Você, a noite e o luar. Um farol, quase apagado, Uma luz ...