Dona Maria tinha uma mania esquisita, ela colocava
nomes em todos os animais. Você deve estar perguntando; “Como assim, esquisita?
Todos nós colocamos nomes nos bichos” é verdade, os cachorros têm seus nomes,
os gatos, os cavalos, todos nós colocamos nomes nos bichos. Maria era
diferente, ela nomeava tudo quanto é animal, gato, cachorro, cavalo, galinha,
porco, ninguém escapava.
Entretanto isso causava um grande problema, porque na
roça alguns animais são criados para servir de alimento, e quando você mata um
animal que tem até nome, fica parecendo quase um assassinato.
Vejam só, Maria criou uma galinha e desde pequena a
penosa era chamada de Emília, por que esse nome? Eu não sei, era Emília pra lá,
Emília pra cá, onde dona Maria estava, lá estava a galinha andando atrás. O
fato é que devido a esse apego, diversas vezes ela escapou de ir para a panela.
Seu João, o marido da dona Maria, era um homem rude,
criado no campo, e ao contrário da esposa, não tinha aproximação nenhuma com os
animais, para ele, na roça, um animal pode ter apenas duas utilidades; servir
para o trabalho, ou servir como alimento. Porém, seu João tinha uma grande
paixão na vida, o futebol, ele não gostava apenas de praticar, era um fanático
torcedor do Botafogo.
Naquele tempo, década de sessenta, a televisão estava
ainda no começo, além do mais, na roça não tinha energia elétrica, por isso era
preciso se contentar com as transmissões feitas através do rádio. Nos dias de
jogos, João se sentava na grande varanda de sua casa, pedia para a esposa fazer
um grande bule de café e ouvia atentamente a narração dos jogos.
E a galinha, onde entra nessa história?
Você pode até não acreditar, mas de tanto ouvir os
jogos, ela começou a gostar, e sempre ficava ali do lado do homem, ouvindo
atentamente o locutor. No começo ele até gostou da companhia, afinal é melhor
torcer acompanhado.
João era botafoguense, mas Emília, para seu desgosto,
se afeiçoou tremendamente ao Vasco da Gama, bastava ouvir o nome do time, ela
começava a cacarejar e pular de felicidade.
A irritação do botafoguense crescia a cada dia, dona
Maria, porém sempre salvava a galinha das mãos do marido.
Certo dia, lá pelos idos de 1968, as duas equipes
chegaram à final do campeonato carioca, a vitória do Botafogo foi massacrante,
quatro a zero, nesse dia, a galinha foi além, a cada gol do adversário ela
partia para o ataque, dando bicadas no patrão. Empolgado com a vitória de seu time
do coração, irritado com a penosa e aproveitando que a esposa não estava em
casa devido a uma viagem, ele fez algo terrível.
Comemorou a vitória do alvinegro comendo um saboroso e
suculento prato de galinha com batata. Quando dona Maria voltou da viagem, a
tragédia já estava consumada.
Eu não acredito em maldição, praga ou nada parecido,
mas a verdade é que após esse episodio o Botafogo ficou vinte e um anos sem
ganhar nenhum título.
Coincidência ou não a galinha estava vingada.
Obs ; Minhas sinceras desculpas a todas as Emílias que
por caso leiam este texto, porque ele é apenas uma obra de ficção.